sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Blue; Bleu; Blau




The Old Guitarrist, Pablo Picasso ,Blue Period,
The Art Institute of Chicago

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A Serpente de Cleópatra


Assisti, tarde dessas por aí, mergulhado no ócio característico da época em terras tropicais como as nossas, um “clássico” do cinema mundial: Cleópatra (1963), com Elizabeth Taylor, Richard Burton e uns tantos beberrões estadunidenses dos áureos tempos em que a AIDS ainda não existia. É até hoje um dos filmes mais caros da história, supervalorizados também, considerando que o orçamento inicial era de US$ 2 milhões, chegando posteriormente a US$ 44 milhões, em valores atuais míseros US$ 286,4 milhões*. Haja dinheiro para colunas de ouro com o mesmo repetitivo bode em alto relevo. Pergunto-me se alguém tentou ao menos visitar jóias da arquitetura egípcia ptolomaica como Philae, e constatar que o bode não é algo muito recorrente.
Em uma das cenas finais, a rainha egípcia recebe de sua escrava um cesto de figos, tétricos, tântricos, fatais devido à pré-combinação de que em seu interior repousava a serpente que logo mais lhe daria o beijo final. Um suicídio político e pronto: Roma, sua águia, o vermelho, o divã e a alta-costura para gordinhos caem de uma vez por todas no gosto mundial.
Cleópatra VII Thea Philopator era conhecida pelo modo corajoso como agia, culta e inteligente, foi a primeira de sua dinastia a dominar o idioma egípcio, preterido nas altas rodas ao grego carregado com o macedônico invasor. É um símbolo do chamado período helenístico, mais precisamente de seu fim. Alexandria e seu brilho subsistiriam, mas não eternamente.
Não com exata certeza pode-se considerá-la como uma mulher belíssima cuja reputação a interpretação por atrizes no decorrer da história do cinema ajudou a sedimentar. Fato é que sua morte, mesmo com o egocentrismo embutido, possui o simbolismo histórico da governante que prefere a morte a submeter seu país a uma última humilhação, se levada em triunfo pelas ruas da Cidade Eterna após a invasão e conquista do Egito.
E a Serpente com “ésse” maiúsculo, o que foi feito dela? Provavelmente retornou ao deserto amado, prometendo a si mesma nunca mais meter-se em cestos com figos, lugar incômodo para um descanso, teve que inclusive envenenar algo desconhecido que lhe atrapalhava em tão monótono, mas escuro sono. Heroína coadjuvante numa das maiores frustrações do posterior Augustus Otávio. Pena que entre as excentricidades médicas romanas faltavam ampolas do não inventado soro anti-ofídico...Ponto para a “concubina” egípcia, a escrava, o cesto de figos e claro, a Serpente.
*N. do A: Dados da Wikipédia em Português, no caso de sua ficcionalidade evidente, considere que ela tem valor expressivo no posterior episódio das colunas com o bode em alto relevo.