segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011






quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Há algo de estranho no closet


Ser gay é se sentir quase que a totalidade do tempo um extraterrestre. Dois mil anos de civilização ocidental judaico-cristã, mais uma colonização instrumento armado da Contra-reforma católica no país onde vivo ainda produzem uma sensação de estranhamento por parte da coletividade heterossexual em relação à população LGBT.
Vale lembrar que eu resido na pacata província.
Se um marciano já deve ser algo excepcional, eu nasci em Saturno.
Não consigo desenvolver um senso de pertencimento com a comunidade que me cerca. O que predomina é uma profunda necessidade de evasão. Ela marca a vida de um gay de província quando as fases de autonegação são superadas.
Isso ocorre, em menor medida, em relação ao local onde realizo meus estudos universitários.
Salvo o meu grupo de amigos eminentemente anarquistas e que compartilham comigo a sensação de não pertencer aquele lugar, todo o resto me é estranho.
Só o imparcial conhecimento acadêmico acaba por me interessar.
Frequentar uma festa da faculdade é comprovar empiricamente meus sentimentos.
Talvez por isso minha reputação é quase que sacrossanta. Isentei-me de vida social heterossexual.
Cursar uma graduação tradicional é ser introduzido em uma instituição altamente hierarquizada que dita o modo como você deve agir para conquistar o sucesso. O sucesso talvez seja aqui entendido como popularidade, mais tarde ele se chamará dinheiro. Prelúdio da chamada linha da vida imposta pelo mundo corporativo.
Enquanto que na faculdade você deve parecer despreocupado com os estudos, ir a todas as festas e se possível pertencer à Associação Atlética Acadêmica local, o mundo corporativo, como um bom antro de burgueses exige que você se case, tenha filhos, comece a frequentar à missa, à sinagoga ou a um culto protestante para ascender profissionalmente. Em resumo, se na faculdade o ideal é parecer pouco respeitável, em alguns anos você deve se tornar a pura expressão da moralidade. 
Como um gay é então inserido nesse mundo?
Duas correntes foram desenvolvidas para sanar esse problema:
A primeira delas, produto genuíno do pensamento narniano, defende a criação de uma máscara heteronormativa que facilitará a inserção do gay na cultura dominante. Atualmente é a mais utilizada. Por muitos anos se tratava de pensamento único.
A segunda, defendida por habitantes de Oz, enuncia o cultivo do gay pride associado a uma profunda busca pela excelência.
Isso significa forçar as portas do mundo heteronormativo por meio do trabalho. Uma espécie de ética protestante e o espírito do capitalismo versão gay. A idéia é conquistar posições por meio de indiscutível competência. E sair do armário.
Harvey Milk, nos anos 1970 dizia que era a saída de todos nós do armário que possibilitaria o arrefecimento do preconceito. Quando um homofóbico descobrisse que alguém de seu círculo íntimo era gay, talvez seus posicionamentos pudessem ser alterados. Se o coming out não diminui o preconceito, ao menos demonstra o fato de sermos uma fatia expressiva da população, o que cria para os governos a necessidade de formulação de políticas públicas voltadas a essa minoria. Como ignorar suas cartas constitucionais e os tratados de direitos humanos dos quais são signatários, tal como a pressão exercida pela representação política desse grupo?
A ética protestante e o espírito do capitalismo versão gay não é isenta de falhas no plano. É incrivelmente mais fácil se adequar à cultura dominante e seguir a linha da vida quando o fim é não lidar com o preconceito. 
A alguns gays, no entanto, é impossível a idéia de vida plena aliada à negação externa de sua natureza. Ser livre é necessariamente trilhar o caminho mais tortuoso.


Rehearsal, Gaugin

(by tess parks)

(by alex [in wonderland])

by revivify

by sannah kvist / sannah.tumblr.com

by alleyn evans

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011








quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Black Swan


Gossip histórica sobre a trilha sonora:
Tchaikovsky ao que parece relata em carta a seu irmão, nos fins do século XIX, ser atormentado por tendências homossexuais desde a juventude . Resolveu procurar um clima parecido com seu país natal e acabou por fixar-se em Nárnia. Casou-se. Teve uma vida conjugal infeliz.
Nos legou obras fantásticas como os balés O Lago dos Cisnes e A Bela Adormecida.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O encontro às cegas


Era gelado e tinha gosto de mármore.

A despeito de grande parte da comunidade gay não ser adepta do que os estadunidenses chamam de date, ou para nós, encontro, devemos concordar de que se trata de uma modalidade bastante viável para se conhecer pretendentes.
Uma de suas subespécies é o denominado encontro às cegas, e que ocorre quando duas pessoas pessoas não se conhecem previamente, ou tem uma compreensão ainda superficial do outro. Normalmente, amigos casadoiros em comum cumprem o papel de tentar unir os corações, mas com o advento da internet os intermediários podem ser suprimidos.
Espectadores de Sex and the City desde a tenra idade como eu, devem saber que encontros às cegas podem ser catastróficos. Não me lembro de Carrie se dando bem em nenhum deles.
Aceitei um convite para um encontro às cegas. Tinha acabado de voltar para a província onde realizo meus estudos universitários, tinha a noite livre. Nada a perder.
Chances de catástrofes?
Tudo começou com Black Swan. Direção de Darren Aronofsky. Natalie Portman, Vincent Cassel e Mila Kunis  no elenco. O Lago dos Cisnes de Pyotr Ilyich Tchaikovsky permeando toda a narrativa.
Primeira anotação mental: vá assistir um filme ruim.
Um braço roça junto ao meu braço. Um rosto roça junto ao meu rosto.
Eu espero romantismo. Distancio levemente meu corpo da poltrona esperando que um braço cinja meus ombros.
Enganei-me. Disfarço e volto à posição original.
Tenho que lidar com comentários desnecessários.
Segunda anotação mental: não vá com alguém ao cinema que converse durante o filme.
Ele me beija. Eu sou pego desprevenido. Sinto-me um adolescente que não sabe beijar.
Terceira anotação mental: esteja sempre preparado para a lascívia.
Quero assistir ao filme. Ele não quer.
Não quero me atracar com alguém no cinema.
Quarta anotação mental:se estiver ruim, diga que vai ao banheiro e não volte mais. Breakfast at Tiffany's deve ensinar alguma coisa a você.
Termina o filme. Estamos distantes um do outro.
Ele quer ir jantar em um fast-food. Sinto minha dignidade se esvaindo.
Decido ir junto. Tento salvar o encontro. Talvez eu esteja sendo pudico demais.
Quatro nuggets e um sanduíche com a estranha combinação de frango com bacon depois, nada acontece.
Fique aqui anotado para esclarecimento de que fui eu quem pediu os nuggets.
Ele não fala.
Eu ensaio falar. Nenhum assunto germina.
Ele decide frustrar a segunda parte do encontro, tão decepcionado quanto eu acerca do andamento de nossas relações.
Eu quero conhecê-lo. Ele quer conhecer meus lábios. Só meus lábios. De preferência sob a proteção da escuridão.
São vinte e duas horas. Chego em minha casa às vinte e duas e trinta.
Tiro minhas roupas. Entro no banho.
Vocifero por telefone com meu amigo que intermediou o encontro.
Visto-me.
Bebo duas doses de conhaque.
Fumo três cigarros.
Saio pela noite.
Danço até as quatro da manhã.
Durmo até o meio dia.
Quinta anotação mental: não tenha encontros às cegas, eles podem ser catastróficos; e vá assistir Sex and the City.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Atlas da homofobia



Leis anti-discriminatórias baseadas em orientação sexual em todo o mundo:
Verde: leis anti-discriminatórias;
Vermelho: homossexualidade ilegal;
Cinza: desconhecido/ambíguo.

Vale lembrar que o Brasil não tem uma legislação penal versando sobre o tema, apenas leis estaduais ou municipais que visam coibir o preconceito, dentro de suas competências legislativas. Normalmente há aplicação de multas, cassação de alvará de funcionamento de estabelecimento comercial e indenizações civis.
Somente a União pode legislar acerca de matéria de direito penal no país.
PLC 122/2006 tramita no Congresso Nacional pretende criminalizar a homofobia, e tem enfrentado forte resistência dos setores conservadores da sociedade nacional, manifestamente as bancadas ligadas às igrejas neopentecostais e católica.
Você pode aderir à Campanha Não Homofobia clicando aqui por meio do abaixo-assinado que será remetido aos parlamentares.
O Brasil vem enfrentando uma onda preocupante de homofobia. Atentados realizados na Avenida Paulista, em São Paulo - SP, e na Rua Frei Caneca, tradicionais redutos gays da cidade chamaram à atenção da grande mídia para um fenômeno recorrente há vários anos.
Já na década de 1990 e no início dos anos 2000, com o crescimento de organizações neonazistas no país, massacres de gays  eram registrados.
Há, no entanto, dificuldades da polícia em identificar a homofobia como causa dos crimes, o que impede a contabilização destes nos índices oficiais. Em parte porque os delitos não são denunciados, ou porque há um despreparo no corpo policial para receber esse tipo de denúncia. O preconceito dos agentes do Estado ainda é um grande problema, aprofundado em razão da marginalização de alguns setores da comunidade gay, como os travestis.
O aspecto amistoso e feliz do povo brasileiro pode enganar à primeira vista, mas estamos falando de uma das sociedades mais homofóbicas do planeta e que tem um alto índice de homicídios em razão de orientação sexual. Estima-se que um gay seja morto a cada dois dias tendo como motivo sua sexualidade. Trata-se de uma pena de morte mascarada.

Aston Classical

A Aston é uma banda de musica clássica formada por alunos egressos do prestigioso Sydney Conservatorium of Music, na Austrália, com idades entre 21 e 23 anos. Ficaram conhecidos por fazer arranjos eruditos de músicas contemporâneas, de artistas como Lady GaGa, Rihanna e La Roux. Muito bom.

Bulletproof, La Roux

Telephone, Lady GaGa feat. Beyoncé

Only Girl (in the World), Rihanna

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011






terça-feira, 1 de fevereiro de 2011




The Kids Are All Right


Sensação no Festival de Sundance, e exibido no Festival do Rio 2010, The Kids Are All Right, ou como na péssima tradução brasileira, Minhas Mães e meu Pai (desconfio que para produzir uma pré-compreensão no candidato a espectador de que se trata de um filme com temática LGBT), é uma comédia dirigida por Lisa Cholodenko, com roteiro feito pela diretora em parceria com Stuart Blumberg.
Nic(Annette Benning) e Jules (Julianne Moore) são um casal gay, mães de Joni (Mia Wasikovska) e Laser (Josh Hutcherson). 
Joni,a pedido do irmão, decide usar sua prerrogativa de ter atingido a maioridade e contacta o doador do sêmen utilizado na concepção dos dois. Ele é Paul (Mark Ruffalo) e sua presença irá mudar a organização de forças da família.
Ganhador de dois Golden Globes, e indicado a três Oscar, melhor filme, melhor atriz e melhor roteiro original, foi também indicado ao GLAAD Awards, importante premiação LGBT.
P.S.: Vampire Weekend na trilha sonora está sensacional!

Nota do autor:
Download disponível em torrent  no Filmes com legenda. Download direto no Intercine Gay.
Críticas no The New York Times, The New Yorker, The Telegraph. Informações na base de dados do IMDb.

Guia Gay da província


Decidimos elaborar um pequeno manual de sobrevivência para gays residentes nas províncias brasileiras. Digamos que seja uma modesta tentativa de fazer um Guide Michelin com os melhores lugares LGBT para se frequentar nas cidades de província do país (as que grandes ou pequenas, não conseguiram se desvencilhar de sua alma interiorana, e tem poucas opções para entretenimento gay).
Para aquecer, vamos lançar em breve um pequeno guia com impressões de estabelecimentos gay, ou gay-friendly da cidade de São Paulo.
Se você quiser colaborar com essa empreitada, mande-nos um e-mail!
Já temos colaboradores de algumas cidades dos Estados de São Paulo e do Paraná, sua ajuda será importante!