quinta-feira, 31 de março de 2011

Coronation

Pure perfection.

Chaos

Jeff Wall, The Destroyed Room, 1978


E eu vi o reflexo da minha alma.
Aquele antes imaculado quarto era uma alegoria do caos.
Os titãs haviam passado os últimos seis dias a brigar sobre minhas roupas e livros.
Werther junto a um montículo de cuecas.
Uma Odisseia dentro da fronha como a me transmitir por difusão durante o sono as aventuras fantásticas de Ulisses.
A porta está fechada.
Só entro quando algo é necessário e logo retrocedo.
Encarar a própria alma é arrasador.
Pois, já é hora de voltar a ser Isaura. Garota prendada e que arruma a bagunça como ninguém.
A esta altura a esperta Reia já escondeu seu filho preferido em algum lugar de Creta.
E em breve o insano Cronos será destronado.
Guerra, antes da calmaria.
Meu quarto é um campo de batalha.

Verbo de ligação


Eu sou Barbra Streisand em Funny Girl e Omar Sharif sempre me diz So long, funny girl quando nos separamos.
Eu sou Vivien Leigh em Gone with the wind, e Clark Gable insiste em repetir Frankly my dear, I don't give a damn.
Eu sou uma Penélope que cansou de tecer a mortalha para esperar um Ulisses que caiu de encantos por Circe e não voltará nunca mais à Ítaca.
Eu sou uma eterna Katie girl, que um dia vai dizer Your girl is lovely, Hubbell.

Fasten your seatbelts. It's going to be a bumpy night.
Eu quero é ser Bette Davis.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Complexo de Penélope


.
Ela, um triênio, desmanchava à noite
À luz da lâmpada o lavor diurno;
(Odisseia, II, 76-77)


Criei um namorado imaginário.
Feito criança solitária filho único que acredita piamente estar brincando com alguém que ninguém consegue enxergar.
Nunca tive amigos imaginários. Sempre fui analítico demais para isso.
Invejava minha irmã, ela tinha três deles. E forçava a babá colocar seus pratos à mesa na hora do almoço.
Aos poucos, eles foram desaparecendo.
Meu namorado imaginário é de carne e osso.
Nós fazíamos tudo juntos.
Projetei em segredo minhas pretensões folhetinescas. Cozia e descozia a mortalha de Penélope.
Imergi em um mar de confusão.
O oxigênio acabou.
Ulisses não voltará à Ítaca.
Penélope-viúva ou se casa com um pretendente qualquer, ou se transforma em Elizabeth I.
Ela quer tempo para pensar.
Quer ser livre
O namorado imaginário deveria desaparecer. Mas como além apenas idéia existe também seu correspondente no mundo sensível, não há muito o que ser feito além de esperar que a comparação entre este e sua forma ideal acabe por produzir um certo desgaste.
Penélope, largue essa mortalha, teça a vela de uma nau. Vá conhecer o mundo.

Boy Culture




Dirigido por Q. Allan Brocka e estrelado por Derek MagyarGeorge JonsonPatrick Bauchau, Boy Culture é a adaptação para as telonas do livro, de mesmo nome, escrito por Matthew Rettenmund. Lançado inicialmente no Reino Unido em abril de 2006, Boy Culture está longe de ser um blockbuster, mas carrega em si qualidades que o torna digno de ser visto por muitos.  


Começamos o filme com a narração e "X", um garoto de programa seletivo, nos explicando como mantem apenas alguns clientes que pagam muito bem. Porém, a história não é restrita ao lado profissional. "X" tem seus serviços contratados por um novo cliente que se recusa a usufruir de sexo enquanto "X" não desejá-lo tanto quanto ele deseja "X", o problema é: "X" há muito tempo não sabe separar sexo de dinheiro. Enquanto isso, nosso protagonista sem nome, se vê às voltas com seus dois roommates. 

O sexo com o novo cliente não chega, e "X" é pago para conversar. Durante essas conversas ele é apresentado à uma história de amor que dura mais de 50 anos. "X" se vê tentado a experimentar o que a muito ele não sabe o que é: sentir algo, mostrar-se humano, experimentar sexo por prazer e não por dinheiro.

Homoerotismo latente, histórias de amor e crises pessoais são os pontos marcantes de Boy Culture. Sem sombra de dúvidas, um filme que merece ser visto várias vezes. 

Site oficial do filme: Boy Culture

No site Coca e Pipoca você consegue fazer o download em AVI e com legendas em português. 


Gay-friendly

As editoras infantis européias têm incluído em suas publicações livros com temática gay. Já há contos de fadas com dois príncipes, ou duas princesas. É um importante mecanismo contra o bullyng homofóbico, já que passa a inserir na realidade das crianças a possibilidade de existência de casais do mesmo sexo. Encontrei esse livro, que explica a homossexualidade de uma forma bem interessante.

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terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

domingo, 27 de março de 2011

sábado, 26 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

skanna0011 (by valtzorr)

terça-feira, 22 de março de 2011

Gênesis



E  deus viu que aquilo era bom 

Antífona

Todos os dias, a caminho de casa, Eva parava à sombra da Árvore do Conhecimento. Letras capitalizadas, já que seus frutos são o próprio pecado. Mais tarde, eles serão os pais da Teoria da Gravitação Universal. Hoje, quando o mundo é apenas um feto, essa Árvore maiúscula é a morada daquela simpática cobra que ouve as dores de Eva muito melhor do que o lacônico Adão.
Qual é o gosto do pecado?
Provavelmente a mulher culpada pelo batismo de todas as crianças nascidas desde então se decepcionará. Água açucarada. Prefiro manga, dirá mais tarde.
Ele se enfureceu. Botou os filhos feitos de barro e costela para correr de seu jardim. Nús em pêlo. Envergonhados.
Maçãs deviam ser as suas preferidas dentre a extensa obra da Criação. É como escolher um verbete aleatório da Barsa.
Quanto à cobra, mudou-se. Macieiras são deveras desconfortáveis quando não há ninguém para ser aliciado.


Homilia

No princípio, ser gay é viver o dilema de Eva no Paraíso. É encarar com volúpia aqueles frutos vermelhos a se indagar acerca de seu sabor.
Não sei quem inventou o beijo, certamente algum australopitecus, que entediado feito Macunaíma, resolveu brincar. Minha única certeza é que se trata do correspondente à maçã de Eva na fundação de nossa sexualidade.
Eu sempre soube que era gay. Minha paixão pelas jóias de Vovó eram indício suficiente. Certo dia resolvi desfilar pelo quintal com aquele anel de alexandrita no indicador. Eva desfila com a maçã pelo Éden, mas resolve jogá-la em um buraco qualquer. Papai disse que não.
Beijar outro homem foi para mim a certeza final de que minha natureza era irreversível.

Cânon

Minha Árvore do Conhecimento era loura. Um metro e setenta. Nariz aquilino. Traços finos. Seus lábios eram da cor da maçã de Eva. Duas covinhas surgiam em seu rosto durante o sorriso.
Parei à sua sombra.
A casa de Vovó era ainda muito longe.
Não havia cesto de frutas.
Nem capa vermelha.
Posicionei-me à sua frente.
Olhei irresistivelmente para cima.
Lá estava ela, a maçã, pendurada no galho mais alto.
Pés de bailarina.
Segure um dos galhos.

Corpus

E um lábio encontrou outro lábio. Nossos verbos se entrelaçaram.
Só há um pequeno vácuo entre os corpos.
Não estamos nús em pêlo, mas cada minúsculo cabelo de nossos corpos levantam-se como que para saudar a hora chegada.
Não escuto deus a esbravejar.
Fomos expulsos de seu jardim há muito tempo, afinal.
Não há raios nem rios de lava.
A mulher conservadora ao lado não se tornou uma estátua de sal.
Quanto ao gosto, é de liberdade.
Pobre Eva, antes tivesse sido lésbica.

Malícia



Bacall, Bogie & Monroe

sábado, 19 de março de 2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011





Ela


Bette Davis é Margo Channing, All About Eve (1950, Joseph L. Mankiewicz).

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dorothy

Problema insolúvel


Caio amou Mévio por anos. Mesmo depois da separação.
Conheceu o milionário Orbílio. Com ele se encontrou algumas vezes. Para aplacar a solidão.
Foi amante do famoso professor Karl Zimmerman. Era puro sexo. Teminou de forma conflituosa. E um livro que continha uma raríssima nota do século XVII sumiu misteriosamente de sua biblioteca.
Caio então decidiu se casar consigo mesmo. Permaneceu só, mas feliz, em sua torre de marfim. Era amigo do rei e  a mesa era farta.
Quando as feridas cicatrizaram, e após uma bem-sucedida cirurgia plástica para remover as últimas marcas, Caio conheceu Tício.
Tício não pertencia exatamente ao padrão de pessoas com quem Caio travava amizade. Digamos que uma certa identidade os uniu. Uma pequena peça de suas almas havia sido fabricada no mesmo estaleiro.
Caio começa a gostar de Tício. Encontra-se em um dilema e acaba por concluir que apenas responde à escassez. Não se gosta de alguém assim tão rápido.
Um retiro prolongado na província o faz esquecer seus fantasmas. Locus amoenus, fugere urbem et carpe diem.
Auto-iludir-se é uma especialidade de Caio. Foi fundamentando logicamente o não-gostar que conquistou com louvor sua tese de livre-docência.
A verdade é que Caio gosta de Tício. Recentemente admitiu em voz alta (ao menos os deuses deveriam ser informados). Com tal ato, deu realidade ao que sente.
Tício, no entanto, não gosta de Caio. Precisamente não o vê como homem. E dificilmente tal conjuntura se alterará tão cedo.
Trata-se do imemorial caso de amor não-correspondido, que tem movido vilãs desde os tempos dos folhetins, e mais recentemente, nas telenovelas.
Caio não tem o talento de uma Aurélia Camargo, tampouco o de uma Paola Bracho. É claro que guarda em  si o potencial para tanto, mas prefere manter uma certa ética. Ou etiqueta aplicada a relacionamentos, como diria uma alcoviteira.
Ele não sabe com certeza porque se apaixonou por Tício, afinal este congrega em si certas características normalmente não toleradas por nosso herói. Travessuras daquele filho gordo e rosado de Afrodite, possivelmente. Há escolha?
E nós nunca nos apaixonamos pelo homem certo, diria sua avó, em uma sutil defesa dos casamentos arranjados.
Caio está resoluto e decidiu guardar seus sentimentos em algum canto escuro e empoeirado do cérebro, na esperança de que o efeito do veneno da flecha de Eros acabe por passar.
Se você fosse analista de Caio, o que lhe diria?