terça-feira, 17 de maio de 2011

Maria João

Corre, vem ver Maria! Porque ela pediu de presente um estilingue? Ela quer ser um menino? Ela não sai do meio deles. Joga bola o dia inteiro, anda de bicicleta e sobe em árvore sem chorar por não conseguir descer. Quem ela pensa que é?

Olha lá Maria! Usando bermuda até o joelho. Descendo a ladeira de patins e ficando no gol pros meninos. Rapelando bolinhas de gude e andando de cara pra cima seguindo pipas despencando do céu. Dando estrelinha e apostando corrida por aí.

Maria não veste saia rosa. Não brinca quietinha como eu e minhas coleguinhas de boneca do lado de dentro do quintal. Eu a vejo pelas frestas do portão. O sol brilhando feito olho de menino contente e Maria sem nada que a prenda brincando como se cada minuto fosse o último.

Ela fazia suas escolhas apenas por ser ela mesma e quando queria tentar não cabia nas rodinhas das meninas. Como poderia, sendo ela por si só, uma afronta ao jeito normal de brincar.

Maria era um mistério desvendado. Nada podia confundir mais quem possuía norma e explicação para tudo, do que a liberdade de ser de Maria. Era o mistério mais bonito ver sua simplicidade de moleque.

Mas Maria cresceu também. Com a gente, não como a gente. Maria levou sua liberdade de Deus-menino consigo. E era a moça mais moleca que todo mundo conhecia. E encantava e se encantava com tudo. E continuava sem medo de montar em cavalo ou pular de cambalhota na piscina.

Corre, vem ver Maria de Joãozinho. O que ela fez no cabelo? Todo mundo falou um monte de coisas duras e que ela parecia um menino. Eu também falei. Eu fazia que achava um absurdo.

Mas alguns anos mais tarde, Maria se casou. Com o rapaz de sotaque engraçado que tirava foto de todas as sombras bonitas das coisas e era gentil com todo mundo. Qualquer moça teria casado com ele.

E foi por isso que nesse dia eu chorei. Porque qualquer moça poderia ter casado com ele, menos Maria. Menos a menina-menino que brincava de tudo que podia e sorria como só quem é livre sabe sorrir. Menos a Maria-Joãozinho que não tinha medo do que diziam. Menos a moça que eu sonhava que me buscaria pela mão e me ensinaria todas as brincadeiras do mundo que eu tinha medo de dizer que queria brincar. Menos a minha amada Maria...





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