domingo, 3 de abril de 2011

Da criação ou Como surge o gay


Façamos o homem à nossa imagem e semelhança


Nascemos homossexuais. E em algum momento da vida despertamos para o fato. Uns aos sete, outros aos dezessete. Muito a contragosto, devo dizer que há notícias históricas informando que alguns despertam apenas aos quarenta a sete.
Fundamentalmente, não se trata de uma escolha.
Embora a cultura dominante ainda insista em usar a expressão opção sexual, não há nenhum de nós que se lembre de a ter preenchido em algum formulário.
Denominar orientação sexual, ou sexualidade de opção sexual é apenas um meio fácil de transferir a culpa pelo preconceito a seu objeto. Já que se trata de uma escolha, sintam-se obrigados a serem vítimas da homofobia.
Há uma diferença sutil em ser gay e ser homossexual
Gay é o homossexual inserido na cultura e que com a comunidade criou laços de pertencimento, compartilhando seus valores e idioleto específico.
Tal inserção se dá por meio de um anteparo, um intermediário. Um gay que introduz o recém-saído habitante das geladas terras de Nárnia em nossa comunidade. Ensina-o tudo o que sabe. Como em um curso de idiomas, o neogay aprende nossa língua, lê nossa literatura, assiste nossos filmes. Aprende noções básicas de moda&estilo, afinal temos certo nome a zelar como fundadores do design.
Chamo essa figura de maker. Poderia ser menos colonizado e chamá-lo logo de criador, ou fabricante, mas essas expressões me lembram uma certa divindade monolítica cujo culto está em voga contemporaneamente.
Para sair do armário, o despertar é o primeiro passo. Aceitar que a sexualidade é parte de sua natureza e que ela está envolvida em uma certa irreversibilidade é fundamental.
O segundo passo é conhecer outros de nós, e enterrar para sempre aquela sensação de sermos sozinhos no mundo.
Todo gay é solitário até certa idade. Poucos de nós tem a sorte de com nossos iguais travar contato na infância. É provavelmente na adolescência que começamos a encontrá-los.
Eu tive dois makers. Cada qual com sua tarefa fundante. Digamos que eu tenha sido um caso trabalhoso. Uma pedra de especial dureza, difícil de ser lapidada. Não sabia absolutamente nada.É hiperbólico, mas é a pura verdade. Argila crua feito Adão pré-sopro divino eu era. Uma jovem Paraguaçu levada por Diogo Caramuru Álvares à corte de França.
A quatro mãos, eu fui criado.

3 comentários:

Filipe Mateus disse...

Nossa, adoro sempre seus textos sobre nós gays, puramente verdade !!!
Parabéns.

Anônimo disse...

Concordo com seu texto.Muitos japoneses só se despertam para a sexualidade com mais idade.Nao posso provar se é pq o trabalho está em primeiro lugar.Vejo muito isso aqui.Esse é um tema difícil de discutir.
Abraços.

VêJota disse...

Ricardo, seu blog é um dos meus makers. Hahaha, parabéns!