quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tio Derchi


Pensei em falar do início dos tempos, da visão dos trópicos ou das peripécias armadas pelo destino que fizeram  meus ancestrais aqui se instalarem. Besteira. Ela provavelmente se confundirá com a própria visão do Descobrimento do Brasil, à exceção de que os parentes maternos não toparam com as vergonhas das cândidas Iracemas, mas com a podridão do porto de Santos.
Talvez a história da baleia instalada sob o casco do navio que trouxe minha trisavó Amália ao país, fosse tão importante quanto o sopro matreiro de Éolo nas velas de Cabral. Deixo isso para depois.
Tio Derchi, é sem sombra de dúvida, um dos maiores mitos de minha família. Era, aparentemente, irmão de meu trisavô Pietro e tinha o péssimo hábito de se portar mal à mesa, comendo à moda ostrogoda: feito um bárbaro.
Ninguém suportava sua companhia para o jantar. As crianças o adoravam, aproveitavam sua presença para transgredir as regras da pequena ética, afinal ninguém seria lembrado na presença de Tio Derchi de que estaria comendo horrivelmente. Ele poderia ficar magoado.
Aos poucos, a frase "Não vá comer feito o Tio Derchi!" adquire o caráter de provérbio na educação dos pequenos.Eu mesmo a ouvi um sem número de vezes, e a repetia às minhas primas.
Tio Derchi ad imortalitatem. Quem diria.

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