domingo, 5 de dezembro de 2010

Da presunção de heterossexualidade


(Espero que ele não seja)


Eu ainda não aceito com muita normalidade a necessidade de sair do armário para o mundo.
Por favor não entenda isso como um manifesto à permanência nas planícies geladas de Nárnia. Sair do armário envolve dois atos complexos: aceitar-se enquanto gay e comunicar essa realidade a seus pais, parentes, amigos, ao restante da sociedade. Minha implicância reside justamente no trecho ao restante da sociedade (aos parentes também, mas se refere aos meus parentes). Isso significa, em outras palavras, que a cultura heterossexual exige de nós sair do armário frequentemente, já que existe uma presunção de heterossexualidade pairando sobre cada um de nós.
Sob o ponto de vista histórico é um tanto compreensível a existência dessa presunção. Há pelo menos dois mil anos a civilização ocidental está impregnada de uma mentalidade judaico-cristã que não encara com tolerância a existência da homossexualidade. Ela não deixa de me irritar. Somos pós-contemporâneos, afinal. Certas coisas deveriam estar superadas.
É inegável, entretanto, e nós sabemos disso, de que quando não expressamos com literalidade nossa homossexualidade (e quando digo isso não me refiro apenas a parecer gay, mas dizer com todas as letras de que de fato somos), as pessoas a nossa volta não cansam de se indagar a respeito disso, e a terminar suas discussões, quase que culpadas com suas conclusões, com um espero que não seja verdade pouco veemente.
Traiçoeira, a culpa católica sempre se infiltra. Pensar que alguém é gay, para a maioria das pessoas, é algo ruim e pouco educado. É a homofobia, travestindo-se com roupa de missa.
Aos que ainda guardam aquele filete de esperança, provavelmente não estão enganados. Ele é gay. Eu sou gay.

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