terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Politics, via presseurop


POLÍTICA

TENDÊNCIA

A irresistível ascenção do Gay Power

06 outubro 2009 IL FOGLIO MILÃO
Guido Westerwelle (g), líder do FDP alemão, com o seu companheiro Michael Mronz, no festival de Bayreuth a 25 de Julho 2009 (AFP)
Guido Westerwelle (g), líder do FDP alemão, com o seu companheiro Michael Mronz, no festival de Bayreuth a 25 de Julho 2009 (AFP)
AFP

Depois das mulheres e dos representantes das minorias étnicas, um terceiro grupo de "outsiders" políticos começa a impor-se na Europa: o dos líderes que assumem – ou pelo menos não escondem – a sua homossexualidade.
Não se trata já do "poder gay" invocado em grandes gritos pelos militantes monotemáticos, cujo activismo político era definido pela sua sexualidade e cujo programa se limitava a "apoiar a causa" – como Peter Tatchell, o único ocidental a ter tido a coragem de atacar Robert Mugabe, o mais homofóbico dos ditadores africanos, contra quem lançou um "mandato de detenção cidadã".
São políticos de primeiro plano, cuja sexualidade é – em graus variáveis – apenas um dos elementos do seu combate político. Nos últimos dias, assistimos, na Europa, ao triunfo de duas personalidades de primeira linha da "gay list" que ascenderam à posição de "número dois" dos governos respectivos.
Um é o glacial Peter Mandelson, que sempre se mostrou muito discreto acerca da sua sexualidade ("A minha vida sexual é privada, mas não secreta", declarou à BBC em 1999, após a retumbante exposição pública da sua inclinação sexual por Matthew Parris, jornalista e antigo conselheiro de Margaret Thatcher). Nos últimos anos, apareceu mais distendido e foi finalmente aceite e reconhecido como um verdadeiro herói do Partido Trabalhista britânico. Apresentou-se recentemente aos militantes, no congresso de Brighton [em fins de Setembro], com um discurso exuberante, cheio de alusões à sua orientação sexual
Guido Westerwelle, chamado de "Gay-Do"
O outro é Guido Westerwelle, líder dos Liberais alemães, que, após ter sido durante anos objecto de todas as piadas maledicentes devido ao seu silêncio, proclamou a sua identidade sexual em Julho de 2004. Apresentou-se na festa dos cinquenta anos da sua amiga e agora colega de Governo, Angela Merkel, com o companheiro, o empresário Michael Mronz, numa encenação já hoje bastante frequente em países de liberalismo tranquilo, como os Países Baixos ou os países escandinavos, onde deputados e vereadores homossexuais vão de vento em popa há vinte anos. Mais que Mandelson, Guido (que se pronuncia como em português, mas que alguns transformam em Gay-Do) apareceu muito à vontade durante a campanha eleitoral, não se eximindo de gracejar sobre as suas preferências "schwuel" ["homo"]. Número dois do futuro Governo de Merkel, tem todas as probabilidades de vir a ser igualmente ministro dos Negócios Estrangeiros. Vê-lo-emos a percorrer mundo, encantando uns e assustando outros.
Na "gay list" figuram também presidentes de Câmaras Municipais importantes, como Klaus Wowereit, burgomestre de Berlim, que agora lidera a corrida (de mil obstáculos) para a chefia dos sociais-democratas alemães, após a retumbante derrota do partido em 27 de Setembro.
Na Câmara Municipal de Paris, continua a reinar o imperturbável Bertrand Delanoë, que, embora não tenha a presença de Wowereit, é um excelente recurso para o Partido Socialista, como o definiu o libertino – e heterossexual – François Mitterrand, se o entusiasmo em relação às senhoras de primeira linha, Martine Aubry e Ségolène Royal, vier a esmorecer.
Uma "saída do armário" mais frequente à esquerda
Após a vitória de 1997, em conformidade com o programa dos diversos governos de Blair, que suprimiram todos os obstáculos sociais em relação aos homossexuais, o Reino Unido viu emergir uma série de ministros e deputados de tendência cor-de-rosa, a começar pelo ex-ministro da Cultura, Chris Smith, o primeiro homossexual a aparecer com o companheiro num jantar no Palácio de Buckingham, acolhido com largos sorrisos por todos (e com piadinhas pelo Príncipe Filipe). O Ministério é actualmente ocupado pelo antigo cronista da BBC Ben Bradshaw , o primeiro dos ministros europeus a "casar" com o seu companheiro [no âmbito de uma união civil]. Assim, de etapa em etapa em direcção ao poder, imitando o seu ídolo Tony Blair, o provável próximo Governo do Conservador David Cameron dará um amplo espaço aos seus amigos homossexuais (Nick Herbert, Nick Boles e Ivan Massow estão entre os seus conselheiros mais próximos).
Mas volta-se sempre a este ponto: ser homossexual publicamente assumido quer dizer que milita num partido de esquerda, ou pelo menos liberal. Os de direita (ou os católicos de todos os tipos) continuam escondidos. Há apenas um país – os Países Baixos – onde, há muitos anos, os movimentos de libertação dos homossexuais proporcionaram uma ampla representação tanto nas instâncias locais como nacionais. Destaca-se, em particular, o caso do jovem ministro da Economia do terceiro Governo de Jan Peter Balkenende, o católico Joop Wijn, nascido em 1969. Teve um precedente neerlandês, por um período curto mas de grande visibilidade, que foi Pim Fortuyn, o líder da direita anti-imigrantes assassinado em 2002. E o que dizer do austríaco Jörg Haider, morto num acidente de automóvel em 2008, que tinha nomeado o seu jovem amante, Stefan Petzner, de 26 anos, líder do seu partido [de extrema-direita]?

Fonte: presseurop

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