quarta-feira, 9 de março de 2011

Problema insolúvel


Caio amou Mévio por anos. Mesmo depois da separação.
Conheceu o milionário Orbílio. Com ele se encontrou algumas vezes. Para aplacar a solidão.
Foi amante do famoso professor Karl Zimmerman. Era puro sexo. Teminou de forma conflituosa. E um livro que continha uma raríssima nota do século XVII sumiu misteriosamente de sua biblioteca.
Caio então decidiu se casar consigo mesmo. Permaneceu só, mas feliz, em sua torre de marfim. Era amigo do rei e  a mesa era farta.
Quando as feridas cicatrizaram, e após uma bem-sucedida cirurgia plástica para remover as últimas marcas, Caio conheceu Tício.
Tício não pertencia exatamente ao padrão de pessoas com quem Caio travava amizade. Digamos que uma certa identidade os uniu. Uma pequena peça de suas almas havia sido fabricada no mesmo estaleiro.
Caio começa a gostar de Tício. Encontra-se em um dilema e acaba por concluir que apenas responde à escassez. Não se gosta de alguém assim tão rápido.
Um retiro prolongado na província o faz esquecer seus fantasmas. Locus amoenus, fugere urbem et carpe diem.
Auto-iludir-se é uma especialidade de Caio. Foi fundamentando logicamente o não-gostar que conquistou com louvor sua tese de livre-docência.
A verdade é que Caio gosta de Tício. Recentemente admitiu em voz alta (ao menos os deuses deveriam ser informados). Com tal ato, deu realidade ao que sente.
Tício, no entanto, não gosta de Caio. Precisamente não o vê como homem. E dificilmente tal conjuntura se alterará tão cedo.
Trata-se do imemorial caso de amor não-correspondido, que tem movido vilãs desde os tempos dos folhetins, e mais recentemente, nas telenovelas.
Caio não tem o talento de uma Aurélia Camargo, tampouco o de uma Paola Bracho. É claro que guarda em  si o potencial para tanto, mas prefere manter uma certa ética. Ou etiqueta aplicada a relacionamentos, como diria uma alcoviteira.
Ele não sabe com certeza porque se apaixonou por Tício, afinal este congrega em si certas características normalmente não toleradas por nosso herói. Travessuras daquele filho gordo e rosado de Afrodite, possivelmente. Há escolha?
E nós nunca nos apaixonamos pelo homem certo, diria sua avó, em uma sutil defesa dos casamentos arranjados.
Caio está resoluto e decidiu guardar seus sentimentos em algum canto escuro e empoeirado do cérebro, na esperança de que o efeito do veneno da flecha de Eros acabe por passar.
Se você fosse analista de Caio, o que lhe diria?

2 comentários:

Lara disse...

diria que ele não deve ouvir sua vó, pois ela não passa de mais uma alcoviteira.

Lara disse...

vai ser difícil a alcoviteira dar uma chance ao tício e mais ainda, de fazê-lo mudar de ideia, seria necessária toda uma alteração de paradigma.